Capitulo 5
O garoto do capuz
Já faziam mais
de dois meses que Daniela havia tido aquela visão comigo, eu quase não estava
mais levando fé naquilo, além do mais eu nunca estava sozinha, ainda mais agora
que Cátia e Daniela haviam se tornado minhas amigas também, eu adorava elas!
Havia acabado
de escurecer, mas eu já estava com sono, estudar de manhã dava nisso, busquei
fazer alguma coisa para distrair a cabeça, ver se eu despertava, pois sabia que
se dormisse a uma hora daquela, com certeza não dormiria bem a noite. Enquanto
buscava o que fazer ouvi um cachorro chorando muito alto, ficava com pena só de
o escutar chorando, coloquei um casaco, pois o tempo dera uma virada e a noite
ficava frio, e sai porta afora para ver o que se passava.
Encontrei um cachorro rastejando pela rua, em
sua pata havia um grande caco de vidro e por isso ele não conseguia andar
direito. Olhei para os lados, a rua estava bem deserta e com alguma neblina,
vez ou outra se viam carros passando, no céu, brilhava um lua cheia, e as
árvores balançavam com o tempo. Sem pensar em nada, fui atravessar a rua, o
cachorro estava do outro lado, um pouco acima da minha casa, mas antes que
chegasse vi um garoto, que parecia ter surgido das sombras, usava um moletom e
estava de touca. Na hora meu coração disparou! “O garoto que Daniela viu!”
pensei.
Meu corpo paralisou, e eu me odiei muito por
isso, estava morrendo de medo, mas o garoto pareceu ignorar minha presença,
sentou no chão ao lado do cachorro, pegou o animal no colo, e com gentileza
tirou o pedaço de vidro que estava em sua pata, com um canivete – o que diabos
o garoto fazia com um canivete no bolso!? – rasgou parte da camiseta azul sob o
moletom e o enrolou na pata do animal, impedindo um fio de sangue que escorria
pela perna do animal de prosseguir.
Quando
finalmente pareceu me ver, gelei novamente, ele olhou para mim de cima abaixo,
mas não pude ver sua expressão pois o capuz ocultava seu rosto.
– Eu moro
longe – o garoto falava comigo como se não fosse uma estranha – não posso
leva-lo para casa, você cuidaria dele? Amanhã eu recomendaria o levar ao
veterinário se puder.
Não respondi,
ao reparar bastante no garoto vi que ele era alto, o que me fazia cada vez ter
mais medo dele, meu coraçãa ia batendo cada vez mais forte, eu estava começando
a ficar com medo, “Exatamente como na visão da Daniela” foi o que pensei sem
querer, queria me convencer do contrário, mas havia algo em mim que se negava a
deixar de sentir medo.
– Entendo –
disse ele pegando o cachorro nos braços, - então eu o levo – e começou a descer
a rua, vindo em minha direção.
– N-n-não! –
forcei-me a dizer aquelas palavras, como era tola! O garoto não tinha feito
nada para mim, por que eu teria medo dele? Ele só havia cuidado do cachorro
ora! – Eu posso, posso cuidar dele, eu... amanhã eu...
O garoto me
olhou como se eu fosse um alien, mas pela primeira vez, riu. Senti meu rosto corando,
sabia que ele estava rindo de mim, do modo como o havia respondido, não devia fazer
a mínima ideia do porque de eu estar daquele jeito, eu estava fazendo papel de
boba.
Ao chegar bem
a minha frente, me entregou com cuidado o cachorro, que choramingou um pouco,
mas logo parou, a esta hora já havia perdido o medo dele, afinal ele iria
embora agora, não iriamos mas nos ver e fim. Pelo menos foi assim que imaginei
o fim da história.
O garoto se
abaixou até alcançar meu ouvido, e como se me segredasse algo, disse:
– Se eu fosse
você continuaria com medo...
Uma brisa bagunçou
meus cabelos, e meu corpo já estava praticamente preparado para correr, “eu
sabia, eu sabia, não devia ter confiado nele desde o inicio, não devia, agora
eu, eu...”. Mas antes que pudesse completar meus pensamentos, me vi só na rua.
Na mão ainda estava o cachorro, mas não havia mais vestígio do garoto, eu
estava completamente sozinha. Me perguntava se aquilo não havia sido um sonho,
uma ilusão, mas o pedaço de tecido de algodão azul amarrado a perda do animal
em meus braços me provava que eu não tinha delirado, o que fez todos os pelos
do meu corpo se arrepiarem.
Como se
estivesse a quilômetros de distancia vi minha irmã, brava vir em minha direção:
– O que
pensa que está fazendo!? Sozinha, a noite, na rua!? Está louca? Vamos, entre.
Expliquei para minha irmã o cachorro, mas
omiti a parte do garoto, não queria preocupa-la mais ainda, disse que o havia
encontrado assim, e ponto! Afinal, minha irmã já cuidava de nós duas desde que
nossos pais nos mandaram para estudar no Japão. Ela já fazia demais por mim.
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